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Livro – Projeto Gestão de Florestas do Amapá

capaGEFLO

Os resultados e a experiências do Projeto GEFLO, que envolveu o Governo do Estado do Amapá (através da SEMA/AP e do IEF/AP), as organizações GRET e Conservação Internacional Brasil (CI-Brasil), foi o principal trabalho desenvolvido pela ECOnvicta em 2016. A publicação inova utilizando uma série de recursos gráficos e também disponibiliza dados pouco conhecidos sobre a situação das florestas do Amapá. O Estado é o mais preservado da Amazônia. A publicação teve organização, redação e edição de Silvia Marcuzzo; projeto gráfico e editoração de Cristina Pozzobon; produção executiva de Marô Silva; ilustrações de Ricardo Machado/Estúdio Quixote.

Acesse o link para ler o livro completo: https://pt.calameo.com/read/002682718e3fc86c695bb

Sementes da Rio+20 germinam em Porto Alegre

Sarah Bueno Motter, da Econvicta

A chuva e o frio não espantaram aqueles que querem fazer germinar as sementes da Rio+20 – Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, durante encontro na última terça-feira (24), em Porto Alegre. Pessoas das mais diversas áreas se reuniram para trocar experiências e fazer um balanço da extensa programação da conferência, que aconteceu em junho no Rio. O debate foi proposto pela jornalista ambiental Sílvia Franz Marcuzzo, no espaço IDEA – Integração e Desenvolvimento Espelho D´Água.

O encontro deu continuidade ao debate promovido pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes/RS) sobre a Rio+20, onde a jornalista foi uma das palestrantes. A partir das percepções vividas nas duas semanas de Rio+20 – quando transitou entre a Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo, e o Espaço Humanidade 2012, no Forte de Copacabana – Sílvia destacou que para se mudar a realidade é preciso haver transformação de valores pessoais.

Silvia Marcuzzo em sua apresentação ono espaço IDEA – “Vivemos numa sociedade de valorização do acúmulo: acúmulo de conhecimento e de coisas materiais” / Foto: Sarah Bueno Motter

“Vivemos numa sociedade de valorização do acúmulo: acúmulo de conhecimento e de coisas materiais”, afirmou. A jornalista acredita que para a adoção de novas atitudes é preciso não só mais educação, mas incentivo ao empreendedorismo social, um dos temas abordados no Fórum de Empreendedorismo Social na Nova Economia, realizado no Espaço Humanidade, iniciativa da Ashoka (www.ashoka.org.br), Fundação Roberto Marinho (www.frm.org.br), Fundacion Avina (www.avina.net) e Skoll Foundation (www.skollfoundation.org).

Os participantes do encontro no IDEA incluíram a anfitriã do espaço, a psicóloga Cristiane Gaiger Ferreira, o professor de literatura José Luiz Matos e sua esposa Iraci Alves, a pedagoga Maria Helena Oliveira, que saiu da Capital gaúcha para ser voluntária durante o evento, o engenheiro elétrico Edson Schaewer Vieira, precursor da energia fotovoltaica no Brasil, o responsável pela gestão ambiental da 4ª Região da Justiça Federal, José Antônio Antunes e os jornalistas Daniela Zatti e Celso Sant´anna.

Os participantes tocaram em diversos aspectos. Marly Cuesta, representante dos Pontos de Cultura do Rio Grande do Sul, que trabalhou intensamente na produção e acomodação de delegações no Sambódromo, entende que os movimentos sociais precisam incorporar mais energia e dinamismo e, principalmente, que os jovens devem se apoderar das causas socioambientais com mais responsabilidade e engajamento.

O jornalista Vladimir Platonow, que atuou na cobertura da Rio+20 pela Agência Brasil – EBC, disse que se sente muito mais tocado às causas socioambientais depois da conferência. Para ele, é importante haver consequências do evento, que não pode ser esquecido pela sociedade e pela mídia, pouco mais de um mês após sua realização.

Poluição de atitudes

Para garantir a continuidade dos debates surgidos na Rio+20, foi consenso entre os participantes do encontro no espaço IDEA que é preciso se encontrar uma “liga”, que una e motive a sociedade civil, fragmentada em diversos setores e movimentos. A funcionária pública do Instituto de Previdência do Estado (IPE) Maria Helena concluiu que, além dos problemas ambientais, vivemos “uma poluição de atitudes”. Ressaltou também que é preciso haver mudança ambiental desde a família, através da educação dos filhos. “Precisamos refletir e mudar nossos pensamentos, nossas palavras e nossos passos, tendo consciência do caminho que trilhamos.”

Tudo isso vai ao encontro da ideia principal de Sílvia, sobre a necessidade de mudança de valores. “A sustentabilidade deve estar presente em nossas relações e qualidade de vida, não adianta nos preocuparmos com o planeta, enquanto não tivermos cuidado com o que está à nossa volta”, resumiu a jornalista, que se dedica a temática ambiental desde 1993.

Consenso também foi que as pessoas que estiveram na Rio+20 são responsáveis por não deixar morrer o sonho, o desejo e a esperança de um mundo mais sustentável, nem que seja nas suas relações. Para isso, é vital regar e cuidar das sementes plantadas. Os presentes despertaram a vontade de continuar discutindo e procurando praticar a mudança de paradigmas que a Rio+20 propõe. Será criada uma lista de discussão e um site na internet para permitir que o grupo de Porto Alegre continue a se encontrar, aberto a novos participantes.

Interessados em fazer parte do grupo devem enviar um e-mail para silvia@econvicta.com.br.

(Econvicta)

Sementes da Rio+20

Terça-feira, 24, a jornalista Silvia Marcuzzo vai realizar um bate-papo sobre a Rio +20, em parceria com o espaço IDEA. O encontro vai ser uma continuidade do debate que aconteceu na ABES recentemente. O objetivo é trocar percepções de quem esteve no Rio de Janeiro, durante o maior evento sobre sustentabilidade dos últimos anos. “É para quem foi ao Rio e para quem não foi saber o que rolou”, explica a jornalista.

Confira o convite abaixo e compareça você também!

Confira a repercussão do encontro da Abes no Correio do Povo

Rio+20: falta de metas e definição de recursos não diminui a importância do movimento

Confira abaixo a cobertura do  terceiro encontro do Ciclo de Debates 2012 “Repensando o desenvolvimento sustentável frente a Rio+20”, promovido pela ABES-RS, no auditório da Decision – Fundação Getulio Vargas, no qual a diretora da ECOnvicta, Silvia Marcuzzo, palestrou.

Na última quarta-feira (11/07) aconteceu o terceiro encontro do Ciclo de Debates 2012 “Repensando o desenvolvimento sustentável frente a Rio+20”, promovido pela ABES-RS, no auditório da Decision – Fundação Getulio Vargas.

Ana Cláudia Vieiro, Gerente de Relações Institucionais e Desenvolvimento da CPRM e coordenadora do evento, apresentou os palestrantes do dia e explicou a nova dinâmica do debate, que permitiu a participação de todos os inscritos que desejaram se manifestar.

Carlos Fernando Niedersberg, diretor-presidente da FEPAM (Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler) resumiu suas impressões sobre a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável ocorrida no Rio de Janeiro, com uma frase: “o pensar deve ser global, mas o agir precisa ser, fundamentalmente, local”. Otimista, ele lembrou que a visão de preservação do ambiente mudou para melhor e disse que a geração de 1960/1970 está em débito com o meio ambiente, acreditando que muito ainda se fará pra resgatar o ecossistema, graças à visão do jovem do século XXI. “Há uma consciência ecológica muito forte” e a Rio+20, de acordo com Niedersberg foi um passo importante para discutir o desenvolvimento social, econômico e ambiental. “Levando-se em conta a quantidade e a diversificação das nações signatárias da carta de intenções e a agenda com 26 temas, podemos afirmar que foi altamente positivo chegar a um consenso”, disse o diretor-presidente da FEPAM, para quem só faltou especificar, no documento, metas e recursos para atingir os objetivos. A reunião com mais de 70 prefeitos das maiores cidades do mundo, no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, entretanto, foi citada como o ponto mais significativo da Conferência e onde conheceu ações pontuais em relação à preservação ambiental e ao desenvolvimento sustentável.

O vereador de Porto Alegre e consultor em direito e legislação ambiental, Beto Moesch, em sua apresentação, lamentou que nossa cultura ainda seja tão somente de crescimento econômico, enfraquecendo o tripé social/econômico/ambiental. “A perna ambiental ainda é muito curta, quase inexistente”, disse o vereador. Moesch lamentou, também, que o Rio Grande do Sul tenha um dos piores índices de áreas protegidas do mundo (menos de 4%) e criticou o novo Código Florestal que retrocedeu em diversos aspectos. Da mesma forma, afirmou que o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), por ser “acelerado”, é insustentável ambientalmente. No entanto, ele considera positivo que se promovam encontros como o da Rio+20, quando todos se mobilizam para as questões do meio ambiente. “O mundo ainda não está se preocupando como deveria com as questões ambientais, apesar disso devemos ressaltar a grande melhoria da abordagem ambiental pela mídia. Os meios de comunicação estão se pautando, diariamente, com as questões da sustentabilidade”, celebrou o vereador municipal. Por fim, citou o exemplo do prefeito de Nova Iorque, Michael Bloomberg, que já está trabalhando e atingindo metas numa das mais importantes cidades do mundo, como empreendimentos de infraestrutura com baixa emissão de carbono.

A última palestrante da quarta-feira, Sílvia Franz Marcuzzo, jornalista e consultora de capacitação de Comunicação para a Sustentabilidade, destacou o “Humanidade 2012”, evento paralelo, no Forte de Copacabana, onde todos se preocupavam com a sustentabilidade, mas poucos sabiam explicar suas questões mais relevantes. Para a jornalista, isso mostra que o Brasil vive, hoje, uma crise de mobilização da sociedade civil e é preciso retomar os movimentos reivindicatórios. “Hoje vivemos numa sociedade aprisionada, cheia de medos. O que nós fazemos? E o futuro?”, questionou a jornalista. Para ela, as mudanças no mundo estão acontecendo de forma acelerada e não estamos acompanhando essas mudanças com projetos e metas pontuais. No telão, Sílvia destacou a seguinte frase: “os analfabetos do futuro não serão aqueles que não sabem ler ou escrever, mas aqueles que não sabem aprender, desaprender e reaprender”. Disse, ainda, que o choque de ver de perto as desigualdades, na Conferência, foi bastante grande. “Enquanto uns compravam lembranças do evento na H.Stern, do Parque dos Atletas, outros dormiam em colchonetes no chão de cimento”.  A ecojornalista salientou, ainda, que é fundamental repassar às pessoas os valores ambientais, para que essa nova geração se mobilize para modificar o cenário atual.

Ao final das apresentações, o público teve oportunidade de se manifestar e promover o debate a respeito das apresentações, concluindo que os valores ambientais devem ser fortalecidos e incentivados no indivíduo, desde sua formação, e que programas precisam ser urgentemente elaborados com metas, obtenção de recursos, destinação e abrangência, para serem executados em nível local. “Vontade política”, essa foi a expressão mais usada por todos os participantes.

 

Fonte: http://portal.abes-rs.org.br

Veja a galeria de fotos aqui

Texto: Carla Seabra – jornalista Mtb 5302 / Abes-RS

Fotos: Alberto Jacobsen / Abes-RS

Silvia participa de evento da ABES sobre Rio+20

ABES

Fundo Vale, Comunicação e Sustentabilidade

No dia 13 de junho, Silvia Marcuzzo, diretora da ECOnvicta, ministrou a oficina “Contribuições para o êxito de ações de comunicação – do planejamento à cooperação”, durante a programação do “Encontro de Parceiros do Fundo Vale sobre Comunicação”. O evento aconteceu no Rio de Janeiro, paralelamente às atividades da Rio+20.

 

Rio + 20 no Mercado Ético por Silvia Marcuzzo

Confira os textos que a jornalista e consultora de comunicação, Silvia Marcuzzo, publicou em seu blog no Mercado Ético.

A Rio+20 está dentro de nós

Rio+20 proporciona encontro de realidades

O que é discutível na Rio+20

Rio+20: Sociedade em Fragmentos

Gratidão e credibilidade na Rio+20

Insustentabilidade e arte na Rio+20

Sobre simpatia, empatia, cuidado e mundo conectado

Grenal, bicicleta versus carro, ruralista versus ambientalista

Por Silvia Marcuzzo, para o Mercado Ético*

Esse negócio de Grenal, Flaflu, ruralista versus ambientalista, bicicleta versus carro, não está com nada! Pior. Tem estado com tudo na mídia, que alimenta o ódio entre as partes. Nós jornalistas, onde me incluo como parte dessa categoria tão desvalorizada ao longo do tempo, temos tido pouco cuidado ao explicar o contexto de ambas as partes em nossas matérias.

E essa é uma questão perigosa. Tremendamente perigosa para todos, inclusive para nós, os jornalistas, que no afã de terminar uma reportagem, não conseguimos ouvir lados importantes de uma determinada questão. Hellooo leitores, ouvintes, telespectadores! Vocês exigem algum tipo de qualidade daquilo que ingerem como informação ou tudo que lhe passam é digerido como verdade?

Agora pergunto: O que é licenciamento ambiental? Por que ele existe? O que significa não se estudar antes o impacto de um empreendimento? Não tenho visto, infelizmente, colegas escreverem ou explicarem questões importantes, que afetam a vida de milhares – até mesmo milhões – de pessoas direta ou indiretamente. Infelizmente, alguns colegas, bravos colegas que resistem nas redações, acreditam nas palavras colocadas por um determinado segmento que têm certos interesses e, portanto, deveria ter sua credibilidade questionada.

É óbvio que a imparcialidade não existe. Aí é que me pergunto: será que a nossa imprensa está assim porque a sociedade organizada não está sabendo chegar até ela? Será que a sociedade está realmente preocupada com a qualidade da informação? Por que mesmo as leis foram estipuladas?

Enfim, coloco essas questões sem vislumbrar nenhuma resposta. E fico extremamente indignada quando leio o artigo de uma articulista da Folha de S. Paulo que saiu no último final de semana. Veja só um trecho: Pois parece que tudo o que não precisamos no momento é trazer para nossos indomados centros urbanos os problemas que ainda não são nossos. Ou melhor, que por ora pertencem apenas a um grupo de garotos mimados e com mais disciplina para exercitar músculos do que para enxergar o próximo. Não me venha dizer que estar “engajado na defesa da bicicleta como meio de transporte” é uma reivindicação que faz sentido para a população de baixa renda.

Ela tem o direito de escrever o que pensa. Viva a liberdade de imprensa! Mas o que eu pergunto é como uma pessoa como essa tem o espaço que tem? Sinal que muita gente deve estar pensando como ela?

Outra. Também é comum ler reportagens chamando licenciamento ambiental de burocracia. Muitos jornalistas são insuflados, pressionados a pressionar órgãos ambientais para que as licenças sejam concedidas. Mas será que eles sabem o que é, de fato, uma licença? Ou quantas pessoas são pagas pelos governos para trabalhar no processo de licenciamento? A questão de fundo é se a sociedade sabe o que significa transformar os órgãos ambientais em cartórios, com finalidades puramente burocráticas.

Não, não quero que isso vire uma guerra entre o público e o privado. Apenas acho que nós, jornalistas, precisamos saber perguntar e nos colocar no lugar de um público que está começando a compreender as complexidades da tão falada, mas mal entendida e com seu santo nome em vão tão evocado, a tal sustentabilidade. Ou melhor: Para que mesmo servem as árvores? Por que elas são importantes na beira do rio? Os rios são todos iguais, com a mesma vazão? E o que são Áreas de Preservação Permanente? Será que algum colega se perguntou sobre isso antes de escrever ou falar para uma audiência de milhões de pessoas? Afinal, nem tudo é relativo. Para a natureza, as coisas simplesmente são como são. E ponto final!

*Orginalmente publicado no Mercado Ético, mas a versão acima foi veiculada em versão online da revista Carta Caiptal.

A sustentabilidade pede carona


As estrelas no céu e o asfalto por baixo. E eu no meio, dentro de um carro, com veículos por todos os lados, quase 11h da noite. Engarrafamento na freeway, BR 290, estrada utilizada por milhares de sedentos pelo mar. Nem sei quantos mil, mas uns 80, 90, 100 carros por minuto passam nos horários de pico nesse caminho, quase único para o litoral norte gaúcho.

O caminho da praia é relativamente tranqüilo, a não ser ao se levar o susto do pagamento do pedágio. De ida e volta dá 14,80 reais, ou seja, fora as “comodidades”, se o motorista está sozinho, não vale a pena encarar esse tumulto por vários motivos.

Clima de verão, descontração e tal. Pois acho que nesse ambiente o imperativo deveria ser um fomento à carona solidária. Muitos carros poderiam ser eliminados desse estafante trajeto, tão cheio de ultrapassagens, entre uma reta e imperceptíveis curvas.

Como adepta de carona, já conheci muita gente legal. Já empinei muito meu dedão na estrada. Tá certo que passei por uma situação pra lá de chata e constrangedora, mas daquela vez eu pedi. Era noite, com “um frio de renguear cusco” e eu estava no desespero. Precisava ir para Porto Alegre e estava uma estrada que dava acesso à Santa Maria, ou seja, muito longe do meu destino final, pois já estava com passagem comprada para ir de Cachoeira do Sul, minha terra natal, até Porto alegre.

Pois só dessa, em dezenas de outras vezes, levei um susto. O motorista do caminhão de óleo (não me lembro de qual tipo) reduzia e ia para o acostamento, perguntando se eu não queria fazer um “pograminha”. Eu consegui manter a compostura, dei um desdobre no cara, modéstia à parte, que, no final do trajeto ainda queria me deixar em casa. Mais: pediu até desculpa pela ousadia, pois perguntou diversas vezes se eu era virgem.

Também, naquele tempo, do alto dos meus vinte e poucos anos, me achava dona do universo. Já tinha conseguido fazer tratamento dentário na universidade que estudava porque conheci alunos da Odonto durante uma carona. Já tinha ido e vindo de Santa Catarina com minha mochila, sem falar das vezes que saía da aula de sábado com um amigo para ficarmos na curva da 290, que corta o Rio Grande do Sul até Uruguaiana, na Fronteira com a Argentina. Tenho tantas aventuras com final feliz de carona, mas essas nem vou me deter a contar.

Lembrei um pouco desses episódios porque acho que deveria haver um incentivo, programas de política pública para fomentar o uso de um carro por mais de uma pessoa. Já pensou que interessante seria para os solteiros, solitários, ou até mesmo para quem quer rachar o combustível para tornar a viagem mais econômica?

Por exemplo, poderia se ter um cadastro com os gostos e interesses entre as pessoas. A divisão do espaço interno de um automóvel poderia servir de cenário para um bom bate-papo ou simplesmente uma boa companhia, sem malícia entre os olhares. Recordo dos tempos que trabalhei no Ibama em Brasília, local onde praticamente não passa ônibus de linha (de hora em hora e olhe lá). Várias vezes peguei carona no pórtico com pessoas que nunca havia visto antes.

É uma excelente oportunidade de se perceber o carro como extensão do motorista, entrando em um universo desconhecido. No embate com o outro, ver a si próprio. A carona permite uma desconstrução de conceitos, as vezes pré-estabelecidos. A música que o desconhecido escuta tem algo a ver com o tipo de condução? Ele guarda o lixo ou os rejeitos são jogados pela janela? O ambiente interno está perfumado? É um micro ecossistema que pode ser sentido em alguns instantes. Esse contato enriquece os antenados e ainda dá indícios de como é o modo vida de tantas outras pessoas.

Foto: Silvia Marcuzzo

Contudo, infelizmente hoje se divulga muito mais o medo, a trapaça e a insegurança. Sempre terá gente que vai querer passar a perna nos outros. Mas continuo achando que tem gente legal por aí. E acredito que a maior parte das pessoas são confiáveis para dar uma carona (a não ser com relação ao volante, mas isso é outra história).

Poderia haver locais como pontos de encontro para isso. Já sei, vai me

chamar de ingênua, que isso não é possível, que poderão ser acionados processos, que o motorista é responsável por todos etc. Só que argumento que se a cidade já está entupida de carros, as estradas também. Especialmente aquelas que servem de vias de válvulas de escape das metrópoles.

Ficar dentro do carro dentro de engarrafamentos sozinho é muito mais prejudicial tanto para o ambiente quanto para si do que se dividir o espaço com desconhecidos o

u diferentes. Depois que se constata isso na pele percebe-se como os formadores de opinião e os tomadores de decisão vivem distante da realidade da maioria e muito próximo de um mundo com espaço que já não existe mais. Algo precisa ser feito. E já.

Nem que seja tecendo novas maneiras de se ter relações com indivíduos de outras tribos e ainda assim economizando o planeta e o próprio bolso. Creio que isso seja uma forma bem interessante de se vivenciar a sustentabilidade.

Silvia Marcuzzo

Texto publicado nos blogs da Silvia no Mercado Ético.